Duzentos guerrilheiros da Renamo entregam-se às autoridades
Duzentos guerrilheiros da Renamo já se entregaram ao Governo, sendo o maior número proveniente das províncias de Manica, Sofala, Tete e Zambézia. A informação foi tornada pública por Horácio Massangai, da Direcção de Reinserção Social no Ministério dos Combatentes. Massangai falava quinta-feira na cerimónia de apresentação de mais cinco guerrilheiros do movimento de Afonso Dhlakama que desertaram das fileiras. Trata-se de João Lázaro Charles, 47 anos, sargento; Horário Sabonete Uacota, 48 anos, sargento; Ribeiro Coutinho Namanga, 51 anos, soldado; Ernesto Bartolomeu Gecomia, 49 anos, soldado e Afonso Simon Sone, 49 anos, soldado Massangai garantiu, na ocasião, que todos os guerrilheiros que se apresentarem às autoridades moçambicanas não serão alvo de qualquer forma de represália e serão reintegrados no quadro do programa de assistência social implementado pelo Ministério dos Combatentes. Refira-se que os cinco guerrilheiros da Renamo apresentados na passada quinta-feira optaram em fixar pensão, recusando-se a permanecer no activo. Presentemente está em curso a tramitação dos processos inerentes à reinserção social destes guerrilheiros, o que está também a ocorrer com outros 200 que já se entregaram às autoridades competentes. “Eles devem aproveitar a abertura do Governo neste momento e mostrarem interesse na promoção da paz no país”, disse Massangai, ressalvando que o Governo não sabe ao certo quantos guerrilheiros poderão ser recebidos dado que a Renamo nunca apresentou a lista. “FOMOS ENGANADOS” “Fomos enganados”,esta foi a posição unânime do último grupo de guerrilheiros da Renamo apresentado semana finda em Maputo. Os guerrilheiros disseram que todos eles participaram na guerra dos 16 anos que culminou com assinatura do Acordo Geral de Paz em 1992, em Roma. Contudo, explicaram, foram outra vez mobilizados por Afonso Dhlakama para regressar ao mato para alegadamente receberem o dinheiro das pensões. “Ficamos desiludidos quando ao invés de recebermos dinheiro, deram-nos armas para fazermos distúrbios”,confessaram. Horácio Sabonete, natural de Mocuba, na Zambézia, disse que há muito sofrimento nas matas. “Cansei-me”, disse, dando conta de sofrimento de dezenas de guerrilheiros que estão a sofrer que não sabem como sair de lá. “Estão com medo. Não há confiança. Têm medo de ir à prisão ou de serem mortos”,disse ainda Sabonete, ajuntando que foi recrutado pela Renamo 1985, tendo passado por um processo de desmobilização que envolveu a ONUMOZ, uma organização das Nações Unidas que operou em Moçambique pouco depois da assinatura do Acordo de Roma em 1992. Uma vez desmobilizado, Sabonete conta-nos que ficou em casa a trabalhar na sua machamba a cuidar dos seus filhos, até ser chamado, há ano e meio, pela Renamo “para ir buscar dinheiro” nas matas. “Não recebi dinheiro nenhum. Obrigaram-me a pegar novamente em armas. Estou cansado. Este ano os meus filhos perderam a escola. Vi que vale a pena regressar para agricultura”, relata. Afonso Simon Sone, guerrilheiro da Renamo, disse por ser turno que operou em Murotone, em Tete. Revelou satisfação pelo facto de ter sido bem recebido pelo Governo e pelo facto de doravante poder beneficiar de projectos de reinserção social. “Vivi muito tempo enganado pela Renamo. Apelo aos meus irmãos no mato para regressarem”, disse, acrescentando que no mato não há nenhuma base logística e as pessoas estão a sofrer. “Estamos mal. Uma arma está para quatro guerrilheiros”,salientou. João Lázaro Charles, sargento da Renamo, explicou que trabalhou em Marínguè, Sofala em condições de logística militar incipientes. “Só tínhamos algumas AKMs. Na base só tínhamos 12 armas para 57 pessoas”, apontou. Sublinhou que lá no mato, os guerrilheiros querem regressar à casa. “ Ninguém tem vontade de fazer guerra. Nós só regressamos porque prometeram-nos, dinheiro das pensões”, ressalta.
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