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Factores da violência doméstica (1)

O Tema
“violência doméstica” é tão comum e recorrente quanto se torna mais actual e apaixonante de tempos a tempos. Neste momento, a agressão física sofrida pela cidadã Josina Machel, protagonizada pelo seu próprio namorado, reacendeu o debate à volta deste tema. O statu da violentada é que está na origem desta paixão e esta manifesta-se por debates acirrados com todos os condimentos que alimentam uma discussão. A atitude da agredida, que é activista contra a violência doméstica e justificou divulgação do sucedido como uma contribuição para o combate à mesma, levanta diferentes interpretações sobre seu o efeito para aquela boa intenção. A outra interpretação, contrária à defendida pela própria, é a de que o acto e a sua publicitação vão encorajar mais violência e os argumentos são: Um: Os homens, tidos como os violentadores, devido à sua vantajosa condição física superior, podem afirmar que “mesmo a filha de fulano de tal leva porrada e porque não tu?”, numa clara alusão ao status de qualquer mulher, ainda que mesmo tão elevada e merecedora duma respeitabilidade, poderosa e temida e ainda estar sujeita a se submeter, à força, ao homem pelo facto de ser fisicamente, mais forte do que a sua parceira. Dois: a mulher, e tendo em conta que uma boa parte desta camada possui uma realista concepção da superioridade física do homem em relação à mulher assim como de outros atributos que advieram daquela superioridade, pode assumir como um dado natural que confirma a naturalidade da violência física do homem exercida sobre ela e assim se tornar mais permissível a aceitar este mau fenómeno social. O reacender dos debates com estes e outros argumentos e contra-argumentos à volta deste tema (violência doméstica) por causa deste acontecimento revela quanto a ideia sobre este tema está muito longe de ser único e consensual. A violência é antónima de paz ou sossego e ambas palavras remetem para um debate sobre qualquer tema a que as pessoas estão sujeitas para reconciliarem as suas ideias. Trata-se afinal de uma dicotomia qualificável por dois elementos opostos: um, positivo, e outro, negativo. A linguagem comum de “combater”, “eliminar”, “acabar”, etc., com a violência (doméstica) pressupõe uma visão comum de ser possível que, um dia, ela desapareça total, completa e definitivamente do cenário humano pelo simples facto de ela ser indesejada e muitos actores estarem empenhados em exterminá-la. Este desejo é paradoxal e, por via disso, dificultado o seu alcance, na medida em que a paz define-se em função da violência e, portanto, em nenhum momento de paz, por mais prolongada que esta seja, se deve esquecer e, pior, considerar a possibilidade de a violência ressurgir. Esta posição não significa que a violência tem de ser real. Não. O homem deve reconhecê-la como parceira inseparável da paz e, como indesejada, tê-la permanentemente presente e encetar acções preventivas também permanentes como um gesto necessário para impedir a sua efectividade e não sonhar em matá-la, no verdadeiro sentido desta palavra, de ela, a violência, deixar de existir na face desta terra. O próprio sentido da paz ganha valor quando se coloca a possibilidade de o seu oposto, a violência, se tornar uma realidade na condição de o homem, em paz, se julgar no paraíso, protegido por medidas intransponíveis e invioláveis. Esta atitude de separação de pares opostos, paz vs violência, amor vs ódio, rico vs pobre, segurança vs insegurança, etc, como entidades separadas ou alternadas constitui o fermento fundamental para a instabilidade ou tensão pois, ao se optar, julgar, pretender e se agir para a morte eterna do indesejado, está se a “ressuscitá-la” com mais rapidez e ferocidade com que se tem para a sua eliminação total, completa e definitiva. O sentido, aparentemente paradoxal desta verdade, pode ser ilustrada no campo religioso em que entre Deus e Satanás, pese embora o primeiro ser o Criador e Todo-Poderoso, não elimina o segundo definitivamente. Porque? Na pior deste, é condenado e aprisionado eternamente. É que só assim se pode saborear o próprio paraíso eterno, vendo permanentemente que o causador do mal, o filho transviado de Deus, está sendo eternamente violentado. Trata-se de uma realidade difícil de trazê-la, razão pela qual muita gente prefere uma visão dicotómica de alteridade em que se pode viver a paz sem se imaginar a possibilidade da violência. É assim que se assistem a cenas paradisíacas que, muito cedo, se transformam em cenas infernais. Assistimos a casamentos pomposos e idílicas/felizes, em que a noiva assume que aquele momento será permanente e eterno. Antigamente, as noivas “choravam” no casamento. As tias conselheiras não prometiam um futuro só de paz mas colocavam, como sorte da filha-noiva, a possibilidade do oposto. E já no lar, a esposa precavida tomava todas as atenções e cuidados para evitar o indesejável e assim se evitava muito a efectivação do mal que só tinha a sua existência na mente. Por seu lado, o noivo, obcecado pela beleza deslumbrante da noiva, mostra-se radicalmente eufórico e apaixonado e assume juramentos infantis sem considerar a sua responsabilidade individual de cuidar daquela figura feminina, o que refrearia aqueles sentimentalismos pela seriedade da sua nova responsabilidade. Como não sucede assim, passado algum tempo, este noivo-marido revolta-se contra a sua parceira, violenta-a e se divorcia. Contra esta visão moderna de separar as coisas e julgar que se pode viver uma sem a outra, apontamos a pós-modernidade que, actualmente, defende esta possibilidade de fazer com que os opostos possam dialogar, isto é, que se reconheça que, neste caso, a paz existe em função da violência e o amor do ódio e a exclusão é uma posição insustentável e motivadora do reaparecimento do oposto negado. A contribuição para a paz está em, pretender-se a paz duradoira e mesmo eterna, mas nunca mesmo, deixar-se “dormir à sombra da bananeira”, acreditando-se que a violência tenha sido enterrada definitivamente. Uma minha tia abandonou o lar, pela primeira e única vez, aos 50 anos de casada. Meu tio, pela primeira vez depois de casados, no esforço de reconciliação, levou-a a uma pastelaria onde tomaram o refresco, recordando o que faziam enquanto namorados hà 50 anos. Desde essa altura, os meus tios passaram a namorar como faziam quando eram jovens. Portanto, a possibilidade é sempre real. Assim, no momento de paz, deve-se buscar a sua parceira existente, a violência, para temperar e consolidar a paz. Isto é o que se faz quando se ora pela paz pois, neste momento de paz, se está se reconhecendo que ela pode ser perdida a favor da violência. Da mesma forma, no momento da fartura/riqueza, deve-se reconhecer que tudo pode acabar e então se faz a poupança e se atende a condição do pobre se evitar a pobreza absoluta. Nesta matéria, os ricos têm uma tendência de se esquecer desta verdade e se surpreende quando, de um momento para outro, os pobres vizinhos invadem as suas residências e se apropriam dos seus bens. Neste momento, os pobres de todo o mundo estão unidos e marcham em direcção aos países ricos e, pela primeira vez, sentem que a sua estabilidade e segurança não são factores eternos.

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