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Cães arrastam restos de cadáveres para as casas no bairro Luís Cabral em Maputo

Na vala comum do Cemitério de Lhanguene, em Maputo, os cães vadios desenterram, persistentemente, cadáveres e arrastarem partes destes para os quintais de algumas casas. “É complicado, ao amanhecer, encontrarmos membros superiores ou inferiores de um ser humano”, contou um dos moradores do bairro Luís Cabral, que vivem próximo daquele local destinado a enterros colectivos de gente supostamente sem família. O sítio, segundo os mesmos residentes, exala um cheiro nauseabundo, e o carro que transporta os corpos está em condições deploráveis de tal sorte que deixa cair pensos higiénicos e arrasta consigo as moscas.
Os moradores queixam-se também do facto de os funcionários do município encarregues de depositarem os cadáveres na vala comum descartarem luvas em lugares impróprios. Porém, a edilidade rebate e diz que tudo não passa de uma mentira. Pelo contrário, os habitantes é que invadiram o local reservado a sepulturas colectivas e depositam lixo. O Cemitério de Lhanguene que foi, de há uns tempos a esta parte o pomo de discórdia entre os residentes e os gestores do mesmo, foi encerrado oficialmente em Dezembro de 2012.
Contudo, nele ainda se realizam funerais e prevalecem problemas recorrentes, tais como a criminalidade e a profanação de túmulos, que são imputados aos próprios habitantes do local. O que agasta, sobremaneira, os residentes que se encontram nas proximidades da vala comum é o facto de o Conselho Municipal de Maputo estar a ignorar o sofrimento a que eles estão sujeitos, há anos.
Maximiano José disse, há dias a uma equipa da edilidade que manteve uma reunião com os moradores do bairro Luís Cabral para apresentar um projecto de requalificação da zona, que os habitantes deparam, frequentemente, com restos de mortos nos seus quintais e gostariam que se as autoridades encontrassem uma forma de dignificar a vida de quem mora naquela área. O local onde se localiza a vala comum é inadequado para aquele tipo de serviço porque as pessoas convivem com um cheiro asqueroso exalado pelos corpos em processo de decomposição.
De acordo com a fonte, a morte tornou-se banal na medida em que as crianças assistem à deposição de cadáveres. O município tem conhecimento destas e outras situações mas não move nenhuma palha para resolver o problema. Aliás, no encontro, em que esteve presente o director da Direcção de Construção e Urbanização, houve gente que pediu para ser removida das proximidades do cemitério.
Samuel Cossa, outro habitante do bairro Luís Cabral, corroborou a versão de Maximiano José e acrescentou que o mau cheiro expelido pelos cadáveres depositados na vala comum tira o sossego aos munícipes não se sabendo se os coveiro cobrem inadequadamente os corpos ou não. Outro interveniente no encontro a que nos referimos disse que há dias em que o carro que leva os cadáveres à vala chega, por vezes, numa altura em que se está a passar refeições.
Este problema, tal como o da criminalidade, é recorrente. Os habitantes acusam a edilidade de nada fazer para interditar o uso da vala comum e encerrar, definitivamente, o cemitério. De acordo com Adília Cassamo, moradora da mesma zona, os dirigentes do município de Maputo não têm familiares residentes nas imediações do cemitério e expostas ao problema em questão; por isso, não tomam nenhuma medida.
“Infelizmente, estamos a sofrer, apesar de existir tanta terra que o município nos podia atribuir. Exigimos que os dirigente saiam dos gabinetes e vejam o tipo de vida que levamos”. Romão Guambe, outro habitante daquela zona, disse que “se os nossos dirigentes fechassem a cova e construíssem um muro não teríamos de passar mal devido aos cães vadios que se alimentam de cadáveres. É complicado ao amanhecer encontrar no quintal membros superiores ou inferiores de um ser humano”.
Sobre estes problemas, Domingas Romão, directora-adjunta de Salubridade e Cemitérios no Município de Maputo, afirmou que o que os munícipes dizem não é verdade. Nada do que eles relatam se passa no local. Aliás, eles é que são os maiores culpados pela degradação do cemitério. “Alguns residentes daquele bairro, para além de vandalizarem as campas, depositam o lixo na vala comum e quando cheira mal esquecem-se de que foram eles próprios que causam o mau odor, que chega a ser prejudicial a eles.
A edilidade foi ao terreno por causa desse problema e constatou que os moradores depositam mariscos já podres e fetos”, argumentou a nossa interlocutora, acrescentando que a vala comum não constituiu nenhum perigo à saúde pública porque diariamente é desinfectada, pese embora os munícipes depositem o lixo nos sítios destinados a enterros, particularmente os residentes da célula “J” e do quarteirão 10.
Horácio Facitela, administrador do Cemitério de Lhanguene, explicou que, apesar de a edilidade ter anunciado oficialmente o encerramento do cemitério em Dezembro de 2012, ainda se realizam enterros de famílias que tenham um ente querido cujos restos mortais foram depositados há pelo menos cinco anos. Para tal, exuma-se o cadáver e no mesmo espaço enterra-se outro.
“O cemitério está lotado”, disse o nosso interlocutor. O nosso entrevistado disse que dos 50 hectares que perfazem a área total do campo-santo os moradores ocupam ilegalmente pelo menos seis hectares. Eles aproveitaram-se do facto de a edilidade nunca ter construído um muro de vedação em toda a extensão do cemitério. Segundo ele, há gente que recebeu terrenos e dinheiro para abandonar aquele espaço mas ainda permanece no local, excepto duas famílias que aguardam pelo reassentamento”.
Se é verdade que o grupo que hoje se queixa de estar a conviver com cadáveres tem talhões algures para recomeçar a vida, não se percebe por que motivo o município não tomas medidas que assegurem que o sítio fique desocupado para os devidos efeitos. Todavia, Horácio Facitela prometeu que em breve será construído um muro de vedação para evitar os problemas anteriormente citados.

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