Pequenos agricultores são os que mais sofrem com as alterações climáticas
Secas, inundações e um clima fora do normal. Os pequenos agricultores são os primeiros a sofrer as consequências das alterações climáticas, colocando em risco as culturas que plantam e aumentando as dificuldades dos que sobrevivem à sua custa. "Na Indonésia, os agricultores têm um cronograma para as culturas que plantam. Mas agora, com as alterações climáticas, o nosso calendário está desactualizado", queixa-se Zainal Arifin Fuad, secretário da organização de luta camponesa Serikat Petani Indonesia, durante o testemunho que deu para a ONG Via Campesina, num encontro organizado em Paris à margem da conferência sobre o clima (COP21). Normalmente, "a estação das chuvas vai de Outubro a Abril e a estação seca de Março a Setembro. Mas actualmente elas são imprevisíveis. Temos de nos adaptar às alterações climáticas e melhorar as nossas sementes, bem como os nossos métodos de produção", explicou à AFP. É por isso que esta associação indonésia promove um sistema tradicional baseado na mão-de-obra intensiva, que, de acordo com Fuad, ajuda a produzir mais arroz com menos água e menos pesticidas. É também a imprevisibilidade do clima que aflige Adnan Cóbano, representante da confederação dos sindicatos de agricultores turcos Çiftçi-Sen, que diz ver "os efeitos das mudanças climáticas na produção de frutas, especialmente as uvas e figos". "Nos últimos anos, temos sido confrontados com chuvas imprevisíveis e fora do tempo, o que causou doenças e nos forçou a usar pesticidas" para lidar com o problema, acrescenta. Geadas fortes, a que se seguem as ondas de calor, são factores que perturbam o repouso vegetativo das plantas e culturas. "No ano passado nevou em Abril e os produtores de uva foram obrigados a arrancar as vinhas que entretanto tinham congelado", salienta Cóbano. Ondas de calor extremo Noutras partes do globo, de África até a América Central, é a seca que causa preocupação à maioria dos agricultores. Edgardo Garcia Aguilar, da Associação de Trabalhadores Agrícolas da Guatemala (ATC), explica que este pequeno país da América Central, entalado entre os oceanos Atlântico e Pacífico, sofre com o aquecimento global, especialmente com o fenómeno El Niño. Enquanto metade da população vive da agricultura e da pesca, a seca em 2014 foi tão grande que os agricultores "tiveram de vender o seu gado, porque já não podiam alimentar-se", e os "pescadores não encontraram peixe porque o oceano tornou-se demasiado quente", lamenta Garcia Aguilar. Na Gâmbia, "a estação das chuvas dura de três a quatro meses, mas agora pára ao fim de dois meses", afirma Mahmadou Fayinkeh, presidente da associação de agricultores da Gâmbia, acrescentando ainda que no seu país "não há instalações para irrigação e que as reservas de águas subterrâneas não são exploradas". Por causa disto, "a nossa produção tem sido reduzida", frisa. O mesmo se aplica ao sul-africano Themba Chauke, da associação Landless People Movement: "as consequências das alterações climáticas na África do Sul são especialmente sentidas pelos mais pobres. Temos ondas de calor extremo. O gado morre e as pessoas já não vão para os campos, porque não está a chover. E se chove, são tempestades acompanhadas de ventos fortes que destroem as casas".
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