Quatro dos activistas detidos iniciaram greve de fome hoje
Pelo menos quatro dos 15 activistas angolanos detidos desde Junho em Luanda, incluindo o 'rapper' luso-angolano Luaty Beirão, iniciaram hoje uma greve de fome em protesto contra a morosidade do julgamento que se arrasta desde 16 de Novembro. A informação foi confirmada à agência Lusa por Esperança Gonga, esposa do professor universitário Domingos da Cruz, um dos quatro detidos que iniciou a greve de fome no Hospital-Prisão de São Paulo, em Luanda, juntamente com Sedrick de Carvalho e José Gomes Hata. "Pelo que conseguimos perceber hoje de manhã, quando fomos levar a comida, são esses quatro que se estão a recusar a comer, em protesto contra a morosidade do julgamento", disse Esperança Gonga, após contactos com familiares dos restantes três detidos. Em causa está um grupo de 17 jovens - duas em liberdade provisória - acusado da coautoria de actos preparatórios para uma rebelião e um atentado contra o Presidente angolano, José Eduardo dos Santos. Os 15 activistas em detenção anunciaram na segunda-feira, em carta enviada ao Presidente José Eduardo dos Santos, que vão fazer uma greve de fome colectiva, caso a audição dos réus em julgamento não termine esta semana. "Eles viram-se na necessidade de fazer a greve de fome. Não, não comeram nada [hoje]. Por exemplo, o Domingos da Cruz a única coisa que recebeu [na cela] foi a água, tive que voltar com a alimentação [que foi levar à cadeia]", explicou Esperança Gonga. Ao fim de 19 sessões diárias, o tribunal que está a julgar o caso começou hoje a ouvir o 11.º réu, de um total de 17. As sessões passaram entretanto a contar apenas com o réu a ouvir pelo tribunal, aguardando os restantes no estabelecimento prisional. "Apesar do esforço que vem empreendendo com a fanfarra mediática já pelo povo angolano bem conhecida que não interfere nos assuntos que competem ao poder judicial, nós já não nos deixamos embalar pelas cantigas infantis do seu regime", lê-se na carta, manuscrita, divulgada na segunda-feira e assinada pelos activistas, sob detenção desde Junho. O julgamento iniciou-se a 16 de Novembro na 14.ª Secção do Tribunal Provincial de Luanda, em Benfica, com críticas da defesa dos jovens à "morosidade" e alegadas "atitudes dilatórias" do tribunal e do Ministério Público. Durante o julgamento, os réus têm sido repetidamente confrontados com vídeos, um dos quais, segundo os advogados, com cerca de duas horas de duração e recolhido com câmara escondida durante as reuniões que estes activistas realizaram entre maio e Junho. Foi também ordenada pelo juiz a leitura, na íntegra, perante o tribunal, do livro de Domingos da Cruz, com cerca de 180 páginas e que era estudado nestas reuniões, publicação que sustenta parte da acusação deduzida pelo Ministério Público. "Caso não termine essa fase de interrogatório ao longo da semana de 7 a 11 de Dezembro, negar-nos-emos a fazer presentes no tribunal e levaremos a cabo uma greve de fome colectiva que se culminará com a satisfação da nossa exigência", lê-se na carta, de segunda-feira, e assinada pelos activistas em prisão preventiva, dirigida ao chefe de Estado. Antes do início do julgamento, vários destes activistas promoveram greves de fome de protesto, contestando o que afirmavam ser o excesso e ilegalidades na prisão preventiva. O caso mais mediático foi o do 'rapper' luso-angolano Luaty Beirão, que esteve sem comer durante 36 dias, o que obrigou à sua transferência para uma clínica privada de Luanda. Na carta dirigida ao Presidente José Eduardo dos Santos deixam ainda o aviso: "Deixemos de brincar aos países. Angola não é sua lavra e muito menos sua quinta".
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