Polícia aborta tentativa de tráfico de duas menores em Maputo
Eles aliciam menores com promessas de uma vida melhor. “Vou garantir-te emprego na África do Sul”, ouviu e acreditou Joana (nome fictício), de 17 anos, quando sua prima a convenceu a fugir de casa. Porque já não estava a estudar, a menor viu naquela a oportunidade de ganhar algum rendimento, visto que a sua a avó não conseguia custear as suas despesas. Na sua ingenuidade, aceitou o convite, e porque, segundo ela, a sua amiga (Lúcia), de 13 anos, estava por perto e ouviu a conversa, decidiu também fugir, à revelia dos pais. E assim foi.
Sem desconfiarem de qualquer interesse obscuro, elas seguiram com Zinha (a prima de Joana) para o distrito de Boane e de lá para uma zona rural descrita como Maáu, na Ponta de Ouro. Dias passavam, as conversas e comportamentos começavam a mudar de rumo. “Um desses dias, estava a tomar banho e, sem me aperceber, chegou um moço e levou a Lúcia de carro, com permissão da prima Zinha.
Eu estranhei e até me zanguei com ela, porque tinha medo que algo de errado acontecesse com a minha amiga e não queria ter problemas com os pais dela. Mas, felizmente, consegui encontrá-la numa barraca e trouxe-a para casa”, contou Joana. Disse que, sentindo que algo estava errado, ligou para uma vizinha do bairro de Chamanculo – de onde foram levadas – a qual informou que os pais da Lúcia estavam desesperados, pois não sabiam do seu paradeiro.
“Quando informei a mana Zinha sobre isso, ela impediu-me que voltasse a ligar para quem quer que fosse. A partir daí, comecei a roubar o telemóvel dela e passei a comunicar com os pais da Lúcia, para os tranquilizar que estava viva”.
Dias passaram e a adolescente diz que teve informação de que Zinha tinha sido paga por homens que alegadamente pretendiam casá-las. “Ela recebeu cinco mil meticais para que fôssemos esposas de uns moços lá. Eles vieram lá em casa, mas recusámos-nos a casar com eles. Porque negámos, houve uma confusão, pois já haviam pago à “mana Zinha”. O caso chegou ao chefe lá da zona, mas ela negou que tivesse recebido dinheiro, por isso, até houve luta, porque diziam que lhes tinha prometido esposas”, terminou Joana.
“Mana Zinha” nega tentativa de tráfico
Encarcerada na 18ª esquadra – local onde os familiares da Lúcia denunciaram o seu desaparecimento –, Zinha nega todas as acusações. Conta que as adolescentes a seguiram por livre e espontânea vontade. “Eu levei a minha prima com o objectivo de lhe arranjar emprego, uma vez que não estava a fazer nada. Aquela outra menina disse que também queria trabalhar. Eu recusei e disse que não tinha dinheiro para o transporte, mas acabei cedendo”, rebateu.
PRM não tem dúvidas: é uma rede de traficantes
A PRM não tem dúvidas de que os implicados fazem parte de uma quadrilha que se dedica ao tráfico de menores para servirem de escravas sexuais. “Elas foram localizadas ontem (terça-feira) na fronteira com a Suazilândia, onde já estavam prestes a ser traficadas para a vizinha África do Sul, onde, segundo informações recolhidas, seriam exploradas sexualmente. Neste momento, além da moça, está detido o proprietário da residência – por sinal padrasto da Zinha, um idoso de 66 anos - onde as crianças eram mantidas”, disse Orlando Mudumane, porta-voz da PRM na cidade de Maputo.
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